João Vinhosa, de 74 anos, é engenheiro aposentado, professor apaixonado, porém inconformado com a falta de conhecimento matemático dos alunos que chegam às universidades. Quando lecionava na UNIG – Universidade Iguaçu, em Itaperuna, no Rio de Janeiro, ele não entendia como alunos de escolas relativamente boas não dominavam conceitos simples como equação de primeiro grau e regra de três. Indignado, começou a escrever artigos expressando sua preocupação. Para ele, faltava aos alunos uma atenção especial e, aos professores, paciência para ensinar.
Longe dali, em Cascavel, no Paraná, os artigos de João chamaram atenção dos pedagogos especialistas em Educação especial, Josué do Santos e Gelcir do Santos, que concordavam com todas aquelas opiniões. Cegos, eles decidiram procurar o colega de profissão e pedir ajuda para ensinar um grupo de professores com deficiência visual que pretendia prestar concurso público, mas desistia devido à dificuldade com a matemática.
Mesmo sem experiência de ensinar pessoas cegas e à distância, João aceitou o convite. Mas entendeu que seria necessário uma adaptação do material que costumava usar. Junto com Josué, concluiu que não seria necessário usar o braile no primeiro momento, já que era possível transmitir o conhecimento da mesma forma e o braile encareceria o projeto. O que fizeram foi adaptar a formatação dos textos para o uso do leitor de tela.
Após 2 anos de aulas, e-mails com PDF, áudios longos e feedbacks positivos do grupo, João decidiu divulgar seu conhecimento para mais pessoas com deficiência visual. Foi assim que, em janeiro deste ano, nasceu o podcast Matemática em Conta-Gotas.
Todo material didático de João foi separado em episódios de aproximadamente dez minutos. O conteúdo é liberado gratuitamente, mas só depois de passar pelo crivo do grupo de alunos do Paraná.
A repercussão do podcast incentivou João a expandir sua iniciativa para pessoas com deficiência auditiva. Agora, suas aulas também estão no Youtube, com vídeos publicados com tradução em LIBRAS e legenda, para que pessoas surdas também possam aprender matemática de maneira didática.
O trabalho voluntário conta com apoio de uma equipe engajada: Andreia de Oliveira Chaves (intérprete de Libras), Fabricio Boechat (produção), Maurício Bastos (co-produção), André Araújo (direção), Gelcir dos Santos e Josué dos Santos (conteúdos) e Pedro Henrick de Oliveira (edição de vídeo). Agora, eles planejam buscar patrocínio para a gravação de mais aulas.
O Grupo Steno tem orgulho de ver educadores usando seus conhecimentos e investindo tempo para gerar mais inclusão. Que a atitude inspire outras iniciativas e leve acessibilidade para todos.